quinta-feira, 10 de setembro de 2009

Praga


Conheci a causa de minha perdição numa noite de domingo. Não podia dormir, o calor e reflexões que variavam entre a efemeridade da vida e contas a pagar mantinham meus olhos secos e descobertos, temo este estado, uma vez na cama tenho por hábito somente me levantar pela manhã independente do ato de adormecer, aproveito este tempo para pensar , rir sozinho e me masturbar pensando em atrizes de cinema da infância, sobretudo Gina Lolobrigida, a virtuose da espanhola. Ela entrou sem dizer olá num voar desengonçado, atingindo as paredes numa dança alegre até se estabelecer sobre um lustre rachado que eu comprei num saldão de uma loja da Consolação. Observei suas antenas que giravam, dois finos fios que indicavam vida e uma primitiva reação instintiva ao mundo. Será que ela percebeu minha presença? Como é linda sua armadura, negra como a noite poluída na qual estamos imersos, negra como a vida que nos foi legada. As asas se sacodem e posso por um instante ver o corpo descoberto em forma de pinhão, de um vermelho escuro que me lembra as carnes intimas de uma mulher, um clitóris com armadura, sem pelo, sem buraco, prazer puro, bruto. Meus sexo esta duro, me masturbo olhando aquela minha nova musa, aquela ninfa sadomasô vestindo armadura de quitina, não penso nos seios de Gina, somente aquele pequeno inseto ocupa meus devaneios, gozo em profusão, tenho semêm até o pescoço. De repente como se soubesse que eu já havia atingido meu ápice, como uma pequena prostituta que dispensa o cliente, ela alçou vôo em direção a janela. Não isso não podia acontecer! Meu coração disparou em dolorida apreensão, ela não podia me deixar dessa forma! Corri e num ágil salto consegui engaiolá-la delicadamente em minhas mãos em concha, podia sentir o delicado debater de suas asas nas minhas palmas, quantos furacões na China poderiam ela ter causado? Se ela não queria ficar por sua vontade ficaria como minha escrava. Fui até a cozinha e coloquei minha escrava num vidro de maionese vazio. Dormi e tive um estranho sonho, eu também era um inseto e podíamos nos comunicar numa linguagem inteligível a ambos, podíamos conversar e nos amar plenamente, perguntei seu nome e ela me respondeu com uma voz de som tão doce que se assemelhava ao toque de uma harpa: Praga. Trabalhar no dia seguinte foi uma tarefa penosa, imaginava Praga solitária em seu cárcere de cristal Nadir Figueiredo. Como sou egoísta, privo um ser de liberdade total, quase um elementar, para satisfazer meu instinto sexual, mas não é apenas sexo, sinto algo mais por aquela criatura, sem Praga minha morte em solidão seria inevitável, nunca encontraria grelo tão lindo, tão alegórico.

Ao final do dia fui ao supermercado em busca de algo que deliciasse Praga, uma forma de me redimir da ausência prolongada, um mimo para a amante. Mas o que um inseto daquela espécie consideraria um banquete? Vaguei horas nos corredores do magazine em busca da pedra filosofal gastronômica que transformaria minhas atitudes terríveis em candura e desculpasse os meus erros. A idéia surgiu enquanto atravessava o setor de inseticidas e me deparei com armadilhazinhas que prometiam atrair os insetos para dentro de pequenas câmaras e infectá-las com um poderoso veneno que não as mataria imediatamente, dando-lhes tempo de irem até o ninho e lá contaminarem as demais companheiras. O ingrediente que as atraia era mel. Comprei dois vidros grandes, mel puro direto de Jordanópolis (aliás nunca vi um mel que não alegasse ser puro), e corri para o meu cafofo ao encontro de meu amor com armadura.

Quando cheguei Praga estava estática dentro do vidro. Meu ser mais uma vez tremeu, a morte dela seria algo insuportável. Destampei o vidro e peguei com cuidado o corpinho de minha menina, para meu alivio as anteninhas começaram a se mover freneticamente. Havia flagrado a marota em meio a uma soneca. Minha alegria foi tão grande que beijei Praga na boca, a ponta da minha língua tocou a pequena cabecinha da qual saiam as esfuziantes anteninhas, meu sexo desabrochou em cana novamente, comecei a me masturbar e a beijá-la apaixonadamente, o cheiro daquela barata me deixava louco! Na hora do gozo mirei o jato em cima dela que ficou toda melecada, podia ver uma microscópica língua sorvendo toda a minha porra. Servi Praga com um pouco de mel, fui tomar um banho e refletir sobre o nosso relacionamento. Como era bom saber que existia alguém que mesmo sendo uma barata e mesmo vivendo sob um regime escravo, precisava de você e de certa forma te amava. Sai do banho com a alma cheia de emoção e encontrei Praga toda suja de mel, uma idéia louca tomou conta da minha cabeça, beijei minha cucaracha de língua e senti o delicioso gosto do mel, meu membro já estava duro como pedra, coloquei Praga inteira na boca e com leves movimentos de língua passei a limpá-la , me masturbei com fúria , gozei quente sobre os meus pés. Dei um beijo de boa noite no meu clitóris blindado, guardei-a em sua cela de vidro e dormi como nunca havia dormido em toda a minha existência.

No dia seguinte não fui trabalhar, seria meu “Day-off” com Praga. Coloquei sua cela no banco do carona do meu Passat 76 e fomos passear por São Paulo. Levei-a ao Museu do Ipiranga, almoçamos um churrasco grego na Rua Formosa. Eu fazia tudo para deixar Praga num ambiente descontraído. A tarde assistimos ao filme Império dos Sentidos no cine Marrocos. Voltamos para casa exaustos. Mais tarde, durante a novela, comecei a beijá-la louco de tesão e tive mais uma idéia maluca, que fez com que meu membro fremisse de desejo. Coloquei Praga cuidadosamente embaixo do meu prepúcio e deixei que ela lá se mexesse com suas perninhas serrilhadas... gozei em segundos! Repetimos a brincadeira três vezes.

Acordei, liguei para o serviço inventando uma desculpa qualquer, precisava ficar com Praga mais um dia, a ausência seria insuportável, mais uma vez a beijei, estava pronto para colocá-la no meu pau novamente quando me lembrei que a última coisa que ela havia comido tinha sido o churrasco grego do dia anterior. Ela gastava muita energia na minha glande e precisava se alimentar. Coloquei mel e ela se lambuzava feito uma criança, quando notei que ela já estava satisfeita coloquei-a em minha boca para limpa-la e então o horrível aconteceu... Não sei se alguma coisa me distraiu, Praga simplesmente escorregou pela minha garganta abaixo. Lágrimas escorreram de meus olhos, ranho de meu nariz, meu coração disparou, meu amor estava no meu estomago! Em poucos segundos os ácidos digestivos destruiriam sua beleza, Praga morreria de maneira horrenda por um estúpido descuido meu. Não conseguiria viver comigo mesmo. Tinha que ser rápido. Corri para a cozinha e agarrei uma faca de cabo branco, sentei numa cadeira e num movimento rápido, de uma habilidade que não imaginava ter, abri minha barriga do externo até o osso pubiano num movimento rápido, uma água com cheiro azedo de vômito lavou o chão da cozinha, e sangue, muito sangue. Praga saiu da vagina gigante que se transformou minha barriga e veio em direção a minha boca me dando um derradeiro beijo. Abriu as asas e alçou vôo em direção a janela, sem ao menos olhar para trás.

13 comentários:

  1. Olha, ri o tempo todo aqui.

    Judiação, abriu as próprias entranhas para salvá-la e ela nem mesmo olhou pra trás?
    Achei pouco, você não a questionou em nenhuma momento sobre suas reais vontades...E melzinho nenhum nesse mundo pode resolver...

    De qualquer forma, belíssimo conto!

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  2. Referencia(sutil e bonita) kafkniana(eh assim que deveria escrever?)com sacanagenzinhas a Sergio Santana.
    Desentranhado: custo alto pra sair de voce. Pelo jeito esta passando...
    Muito bom, muito bom, muito bom!!!!

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  3. Desir e Nhunha já me disseram que este conto é extremamente misógino.Vocês acham?

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  4. Genial. Simplesmente genial.

    A partir de hoje, fecho o Santanna's fã club. Não há mais razões para existir.

    Com esse conto (misógino é o caralho, verdadeira Ode às mulheres reais!), você se insere (no bom sentido, claro) no panteão dos maiores escribas desse país.

    Abraço,

    Jagunço Charles Bronson

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  5. Eduardo
    Misogino???
    Not at all. "She came through the bathroom window", fingiu-se de fragil, de morta, teve gozo e provisoes, depois nem o couro quis.
    Habil titeriteira, como quase todas somos.
    Tadinhos!

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  6. Hummm...Não conversei com a Praga pra saber, aliás, você colocou poucas falas dela.

    Se você a violou sem a devida vontade e o consentimento dela, é misógino sim. Agora se ela curtiu/e curte a parada(sadô), daí, não. Apesar que ela partiu...
    Mas mesmo a partida dá margem pra uma série de interpretações...

    Se bem que o clausuro sempre é misogino, né, Dudu.

    ___

    Nhunha, mas que plural é esse? Hein?

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  7. shaushaushaushaushaushau... xD
    Espetacular!!!

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  8. Desir,
    Sacanagenzinhas??
    Apenas uma delicadeza para Praga.
    Bjs

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  9. Alessandro Bittencourt11 de setembro de 2009 às 09:52

    Valeu Santanna, essa tá de profissa!

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  10. Horrível, como só o Xico Sá consegue ser às vezes. Trocássemos "barata" por "besouro" e "Praga" por outro nome qualquer e ficaria claro o samba do paraíba-paulista doido que esta extrovenga é. Ou o fato de citar Kafka transforma qualquer porcaria em coisa chique? Assim é mole! Vão lavar roupa pra fora que é melhor!

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  11. Anônimo, não acho que citar Kafka enobreça qualquer tipo de texto. Também a referência não tornaria um texto melhor. Ou o texto é bom, ou não é. Ponto.

    Acho que alusão aqui é cabível, talvez tenha sido uma homenagem...E porque não? Sem dizer que Kafka nasceu em Praga também, se não me engano.

    Aliás, o que seriam das baratas se não fosse Franz? Estariam condenadas por toda eternidade ao mais profundo anonimato, além da marginalização! Coitadas.


    - Isso porque Franz nem menciona o nome do inseto na Metamorfose. Só descreve.

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  12. Vc nasceu em 1970 (esqueceu?) e a Gina já tinha 43 anos, ô fajutão! A fase áurea dela já tinha passado. Atriz da minha infância...Haja paciência! Ou anda plagiando até punheta agora também? Do amigo, X. Vc é demais! kkkkkkkkkkk

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