segunda-feira, 7 de setembro de 2009

Fome de Amar


Apesar de ter sido feito a mais de vinte anos atrás a atualidade de Fome de Viver é inegável, a cena de abertura em que o casal de vampiros Miriam (Catherine Deneuve bela da tarde, da noite e da manhã) e John (David Bowie) chegam a uma boate para caçar suas presas parece ter sido feita no último domingo no Clube A Lôca, a linguagem publicitária (não me agrada particularmente)que Tony Scott utiliza no filme não envelheceu.Fome de Viver é retro-chique. Muitos disseram que Fome é um filme sobre a implacabilidade do tempo e a mortalidade consequente do inexorável passar das horas,sendo assim uma espécie de continuação de Blade Runner,dirigido pelo irmão do diretor de Fome de Viver,Ridley Scott.Blade Runner,realizado um ano antes de "The Hunger", termina com o replicante Roy se questionando sobre quanto tempo ainda teremos e Fome de Viver tenta refletir sobre o fenômeno tempo através da ótica dos relacionamentos. O filme começa com os vampirões em uma boate moderninha, de lá saem acompanhados de um casal para um suposto "swing" porém o que espera os desavisados namorados é a faca (sim,os vampiros de The Hunger não possuem dentões)e a deglutição de seu sangue por John e Miriam.A sangrenta troca de casais nada mais é do que uma representação de uma tentativa de renovar um relacionamento já antigo,já meio desgastado pelo tempo, muitos casais em declinio recorrem a clubes de swing para tentar dar uma apimentada na relação.Depois vemos John se dirigindo a uma cliníca onde a Dra.Sarah (Susan Sarandon) pesquisa formas de aumentar a vida humana, descobrimos então que John,por mais sangue que beba,esta envelhecendo rapidamente a consulta com Sarah é um grito de socorro,John representa o envelhecimento de um caso de amor. Após uma mal-sucedida consulta com a médica John retorna a sua casa, onde uma menina de aproximadamente dez anos espera Miriam para suas aulas de piano.John ataca a garota e bebe seu sangue, era essa menina que tocava para deleite de ambos uma bela música de amor ao piano,o assassínio da menina representa a última tentativa de John salvar o amor perdido,a garotinha representa uma músíca romântica antiga que marcou o inicio do relacionamento de John e Miriam,uma tentativa de retornar a um passado jovem (uma criança) e dourado.Miriam chega, ele confessa a ela seu crime e morre em seus braços,aparentando uns cento e cinquenta anos de idade. Miriam leva o decrépito corpo para o sotão de sua casa e o coloca em um caixão, vemos que existem vários outros caixões no macabro depósito, ex-amantes de Miriam através dos tempos.Mas por que ela sobrevive a todos os seus amores? A metáfora é óbvia,Miriam é mais forte porque consegue literalmente enterrar seu passado, seus amores acabam e ela segue em frente,parte para uma nova relação e esquece o passado. Miriam recebe então a inesperada visita da Dra.Sarah que intrigada pelo envelhecimento relâmpago de John vai a casa do mesmo em busca de respostas.Miriam seduz Sarah e a transforma numa vampira,tudo num clima lesbian-chic, ambas se tornam amantes,conforme já dito,Miriam não consegue ficar sem companhia e Sarah é sua nova parceira,porém Sarah rejeita Miriam numa alusão a homofobia.No filme vemos um estranhamento em relação a amar uma vampira,na verdade o que a situação mostra é a rejeição de Sarah,uma mulher até então heterossexual e casada,por um homossexualismo latente que começa a se manifestar,Sarah então tenta se matar buscando por um ponto final em suas pulsões homoeróticas, Miriam,rejeitada pela médica entra em crise,desta vez não há como colocar a jovem e fresca (um amor novo e maravilhoso) num caixão e seguir em frente,nesse momento os corpos em decomposição dos amantes do passado de Miriam saem de seus esquifes e numa cena cruenta, que contrasta com a sutileza geral do filme,levam a vampira para a tumba do esquecimento. O filme termina com Sarah na sacada de seu apartamento,do sotão ecoam os gritos de Miriam, ou seja, apesar de ter rejeitado Miriam em nome da moralidade a vampira ainda vive na alma de Sarah,um amor inesquecível.Sarah continua vampira (lésbica),o filme termina. Fome de viver é então um filme visão sobre a necessidade que temos dos outros e como essa necessidade muitas vezes definha e acaba.Porém a maior pergunta do filme fica em aberto, a agrura que Miriam,tão experiente,não conseguiu suportar, o que fazer com um amor que acaba em seu auge? Como esquecer o paraíso?

2 comentários:

  1. Aqui tá melhor que o Carapuceiro, mesmo. Muito mais profundo e enigmático.

    Dudu, não adianta, você não me engana. Está sofrendo de amor, ou a falta do amor.

    Também creio no início, meio e fim do amor, e realmente, o fim súbito em meio ao auge do sentimento, vixe, é doloroso demais. Na verdade, não sei o que é pior: o rompimento no auge, no paraíso, ou o olhar pra trás e ver o paraíso em contraponto ao inferno atual...Acho que ambos trazem dor, diferentes, mas igualmente doloridas!

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  2. Eu estou sentindo de falta querida, estou com um vazio abissal dentro de mim, mas como já disse Cioran: se não existisse o suicidio eu já teria me suicidado.

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