quinta-feira, 3 de setembro de 2009

Aviões,Trens,Automóveis e Amizade


Seguindo uma indicação de Roger Ebert de seu livro Grandes Filmes assisti a Antes Só do Que Mal Acompanhado(Planes,Trains & Automobiles,1987) de John Hugues e o prazer foi grande.Meu desprezo pela película sempre se deveu ao preconceito puro,achava que o filme era somente mais uma comédia rotineira estrelada por Steve Martin nos anos 80,como Trocando as Bolas e Roxanne,mea culpa,mea culpa,o filme é uma jóia,uma dessas delícias próprias para as tardes de domingo (costumo incluir nessa categoria alguns filmes de Mike Nichols como A Difícil Arte de Amar,Secretária de Futuro e Lobo).São filmes luminosos,bem-humorados que muito falam sobre a condição humana,colírios para a nossa miopia cotidiana.Em Antes Só Steve Martin faz o papel de Neal Page,um burocrata do marketing que esta saindo de Nova Iorque para encontrar a família em Chicago a dois dias do Thanksgiving,porém a viagem não vai dar certo,haverá escassez de táxis,pousos e decolagens prejudicados pelo mau tempo,trens enguiçados entre outros empecilhos.Como companheiro desta jornada Page encontrará Del Grifith (John Candy em sua melhor atuação) um vendedor de argolas para cortinas de banheiro,gordo,desajeitado e inconveniente,que clama ser amado somente por sua esposa,carregando um enorme baú (objeto o qual descobriremos o significado metafórico somente no final da trama)que contribuirá para as agruras do personagem de Steve Martin. Temos aí uma comédia de erros com risos abundantes,como Perdidos em Nova Iorque (Out Of Towners com Jack Lemmon)em que nada dá certo,porém percebemos que o filme de Hugues é muito mais do que isso.Após dois dias na estrada Page se despede de Grifith numa estação de metrô de Chicago, o personagem de Martin então,se refestela num banco do metrô aliviado por estar no final de tão conturbada jornada,por ter se livrado de Grifith,fecha os olhos e relaxantes e prazeirosas imagens de sua família surgem em sua mente,porém essas imagens se mesclam com lembranças dos momentos vividos ao lado de Del Grifith,momentos de ação e riso,momentos que mesmo involuntariamente fizeram com que Page saísse de sua vidinha burocrática de executivo,aquele homem chato, apesar de tudo, havia se tornado um amigo.Num segundo insight Martin percebe o porque do personagem de Candy ser tão grudento,ele se recorda de uma série de incongruências do discurso de Grifith sobre a sua mulher,sim,não existia mulher alguma,Grifith era um solitário e aí descobrimos o significado do baú,o objeto representa a dor que o homem carrega,a dor da perda da mulher amada,morta oito anos antes.Temos aí um filme sobre a amizade,ninguém neste mundo é perfeito e a maior parte dos nossos defeitos tem um motivo,muitas vezes motivos que preferimos manter escondidos,ser amigo de alguém é fazer vista grossa a estes defeitos e tentar corrigi-los quando possível,a amizade é mais um ato de amor incondicional ao qual devemos nos submeter na nossa existência.Page volta a estação e encontra Grifith sozinho,desamparado,sentado em um banco da estação,momentos depois vemos os dois homens chegando a casa de Page,Grifith divide o peso do baú com Page,cada um segurando uma alça,o almoço de Ação de Graças esta prestes a ser servido,Page apresenta o amigo com orgulho aos familiares acolhendo-o no amago de seu lar,ao lado de seus entes mais amados,Grifith sorri deliciado e nós choramos de emoção. A amizade entre os dois homens esta selada,o nosso amor por Antes Só do Que Mal Acompanhado também.

2 comentários:

  1. viejo,tenho lido aqui,mui bueno,so agora tive tempo de comentar,pois soy mal pago e fudido.abraço

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  2. é uma honra mestre,uma honra!

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