terça-feira, 22 de setembro de 2009

Um brinde para a lua...

Vamos hoje brindar o vinho a luz do luar pois não sabemos se amanhã o luar exitirá para brindarmos a ele ( Omar Khayam).Vamos as cervejas no O Malleys para tentar provar a nossa virilidade bêbada entre as bêbadas, vamos a feijoada do Star City abreviar o nosso tempo de vida com doses exageradas de prazer gorduroso,vamos dilatar nossos estômagos e descobrir que a filosofia também passa pelo nosso sistema digestivo indo desembocar nas cloacas do mundo,vamos ao Tivoly comprar nossos tickets para o inferno,vamos beijar as várias bocas que recebem outras e outras coisas profissionalmente, vamos chafurdar na sopa cósmica que dá razão ao mundo de desrazão,vamos pagar pelo amor que a vida insiste em nos negar em toda a sua plenitude, vamos ao Mariguella que só existe em nossos corações beber da dobradinha sem igual e depois vomitá-la na Avenida Paulista deixando para o asfalto a nossa digestão inacabada,vamos aos cafés frescos fingir que a nossa frescura faz parte de algum plano,vamos tomar água gaseificada e cuspi-lá nas caras consumistas dos Jardins,vamos ler a Veja de graça,vamos peidar em elevadores lotados,vamos assistir missas para comer a hóstia e transformar o corpo de Cristo em bóstia, vamos consumir a vida em exagero,mesmo que seja somente na minha cabeça.

sexta-feira, 11 de setembro de 2009

Homens


Homens fracos.Homens risonhos.Homens bisonhos.Homens fétidos.Homens legaizinhos.Homens heterossexuais.Homens gays.Homens indiferentes.Homens medrosos.Homens agressivos.Homens puxa-saco.Homens inadvertidos.Homens tecnocratas.Homens indigentes.Homens crentes.Homens ateus.Homens a deriva.Homens de direita.Homens de segurança.Homens irresponsáveis.Homens feios.Homens incríveis.Homens homofóbicos.Homens do sexo feminino.

Existiu lá em cima,perto de Biloxi,um homem chamado Natanael Jessup.Era uma pessoa que colecionava outras.As matava,empalhava e catalogava de acordo com seu "belprazer" bestial.Era um homem do colecionismo.Começou atacando burocratas de terno e gravata,gostava de vê-los gritando quando sua faca perfurava as camisas de viscose baratas,matou vários deles,gostava de caprichar na taxidermia,colocava a cabeça de um no outro,uma troca de crânios e Jessup,com o tempo,passou a ver que todos eram iguais.

Homens intelectuais.Homens banais.Homens arrumadinhos.Homens esculhambados.Homens gordos.Homens cagados.Homens cegos.Homens infiéis.Homens tranquilos.Homens insensatos.Homens podres.Homens incansáveis.Homens intragáveis.Homens mentirosos.Homens danosos.Homens visionários.Homens antigos.Homens de visão.Homens de ontem.Homens escravos.

Este relato conta a minha história.Comecei atacando Senhoras de Santana de cabelos roxos. Passei para putas da boate "Termas Relax My Baby",ataquei depois colegiais de meias sujas,de calcinhas cheirosas,arrancava a roupa de baixo das biscatinhas e as vendia para velhos bandalhos japoneses, ataquei Maria Bethânia com ovos e tomates podres,ataquei Miúcha,ataquei mulheres cegas e toda noite atacava minha mãe com mil beijos na hora que ela me trazia leite com canela em pó.

Homens babacas.Homens larápios.Homens múltiplos.Homens de confiança.Homens empreendedores.Homens encaracolados.Homens imaginários.Homens inconsistentes.Homens eloquentes.Homens indecentes.Homens duplos.Homens eretos.Homens indiscretos.Homens redundantes.Homens impacientes.Homens impactantes.

Existia lá no Engenho um vampiro chamado Cangote.Roubava os pedestres,roubava-lhes o sangue gota a gota.Um dia perdeu o ânimo e virou pedinte,pedia aos passantes seus piolhos,suas pulgas,seus pernilogos,seus carrapatos, comia os bichos com satisfação em busca das goticulas de sangue.Uma vez uma mulher lhe deu um tampão usado.Cangote ficou muito feliz.

Considerações sócio-morais sobre um filme trash


Assisti ontem Rejeitados Pelo Diabo segundo filme dirigido por Rob Zombie (da banda White Zombie alguém lembra?)e me surpreendi, costumo não botar muita fé na profundidade intelectual e estética de cabeludos que andam por aí com camisetas pretas de grupos de hard rock, grata alegria, o cara é dos bons, dizem que seus remakes de Haloween são ótimos, preciso os ver.

Rejeitados é um passatempo divertidissímo, é anunciado como um faroeste "punk rock" e é muito mais do que isso, no campo da cultura pop temos ali um mostruário digno, é uma espécie de road movie misturado com o Massacre da Serra Elétrica, Sexta-Feira 13 e Quadrilha de Sádicos (Michael Berryman o feissímo Plutão de The Hills Have Eyes participa do filme) mais inúmeros clichês e referências ao cinema, pop music, literatura barata, quadrinhos e cia.ltda, para se ter idéia o chefe da gang de psicopatas é um palhaço doentio com os dentes negros de nicotina e podridão (o ator picareta Sid Haig numa charlatã e fantástica performance) além do fato de que cada membro da gangue possuir o nome de um personagem interpretado por Groucho Marx em suas comédias.

Brincadeiras a parte, o que mais chama a atenção no filme é uma total ausência de maniqueísmo, todos ali são farinha do mesmo saco, o diretor joga com os nossos sentimentos em relação aos seus peões durante todo a película, no inicío somos levados a ter asco da gang de psicopatas, seres desprezíveis e cruéis, deformados,sujos (com excessão da pitelzinha Sheri Moon, mulher do diretor na real) e torcemos para que o policial fascistóide acabe com todos aqueles escrotos, porém a história se desenvolve de uma forma curiosa, o que parece ser um confronto entre bem e mal passa a ser uma metáfora, seriam os psicopatas tão doentes assim? E o policial, não é também um louco agindo com o aval da sociedade? No final, sem querer, já estamos torcendo para os bandidos, são eles seres nietzschianos, outsiders livres que riem de nossa moralidade, predadores que se alimentam dos fracos, são destruidores da moral do bom mocismo e do politicamente correto hipócrita dos nossos tempos, em dado momento um dos assassinos responde aos pedidos de clemência de uma vitíma chorosa (espirito de rebanho?) se dizendo o próprio diabo e que lá se encontrava para destruir a todos, na verdade o grupo do mal representa toda uma contracultura, toda uma atitude a muito desaparecida ( o filme se passa no final dos anos setenta,últimos dias do hippismo), eles são uma cusparada no rosto de uma sociedade apalermada, reacionária,conformada, anti-heróis por excelência.Rejeitados Pelo Diabo não é um filme para todos os paladares porém vale a pena ser visto,atenção para a cena final que simboliza de uma forma belissíma a morte de uma era e o nascimento de outra, talvez muito mais doentia que a sua anterior.

quinta-feira, 10 de setembro de 2009

Praga


Conheci a causa de minha perdição numa noite de domingo. Não podia dormir, o calor e reflexões que variavam entre a efemeridade da vida e contas a pagar mantinham meus olhos secos e descobertos, temo este estado, uma vez na cama tenho por hábito somente me levantar pela manhã independente do ato de adormecer, aproveito este tempo para pensar , rir sozinho e me masturbar pensando em atrizes de cinema da infância, sobretudo Gina Lolobrigida, a virtuose da espanhola. Ela entrou sem dizer olá num voar desengonçado, atingindo as paredes numa dança alegre até se estabelecer sobre um lustre rachado que eu comprei num saldão de uma loja da Consolação. Observei suas antenas que giravam, dois finos fios que indicavam vida e uma primitiva reação instintiva ao mundo. Será que ela percebeu minha presença? Como é linda sua armadura, negra como a noite poluída na qual estamos imersos, negra como a vida que nos foi legada. As asas se sacodem e posso por um instante ver o corpo descoberto em forma de pinhão, de um vermelho escuro que me lembra as carnes intimas de uma mulher, um clitóris com armadura, sem pelo, sem buraco, prazer puro, bruto. Meus sexo esta duro, me masturbo olhando aquela minha nova musa, aquela ninfa sadomasô vestindo armadura de quitina, não penso nos seios de Gina, somente aquele pequeno inseto ocupa meus devaneios, gozo em profusão, tenho semêm até o pescoço. De repente como se soubesse que eu já havia atingido meu ápice, como uma pequena prostituta que dispensa o cliente, ela alçou vôo em direção a janela. Não isso não podia acontecer! Meu coração disparou em dolorida apreensão, ela não podia me deixar dessa forma! Corri e num ágil salto consegui engaiolá-la delicadamente em minhas mãos em concha, podia sentir o delicado debater de suas asas nas minhas palmas, quantos furacões na China poderiam ela ter causado? Se ela não queria ficar por sua vontade ficaria como minha escrava. Fui até a cozinha e coloquei minha escrava num vidro de maionese vazio. Dormi e tive um estranho sonho, eu também era um inseto e podíamos nos comunicar numa linguagem inteligível a ambos, podíamos conversar e nos amar plenamente, perguntei seu nome e ela me respondeu com uma voz de som tão doce que se assemelhava ao toque de uma harpa: Praga. Trabalhar no dia seguinte foi uma tarefa penosa, imaginava Praga solitária em seu cárcere de cristal Nadir Figueiredo. Como sou egoísta, privo um ser de liberdade total, quase um elementar, para satisfazer meu instinto sexual, mas não é apenas sexo, sinto algo mais por aquela criatura, sem Praga minha morte em solidão seria inevitável, nunca encontraria grelo tão lindo, tão alegórico.

Ao final do dia fui ao supermercado em busca de algo que deliciasse Praga, uma forma de me redimir da ausência prolongada, um mimo para a amante. Mas o que um inseto daquela espécie consideraria um banquete? Vaguei horas nos corredores do magazine em busca da pedra filosofal gastronômica que transformaria minhas atitudes terríveis em candura e desculpasse os meus erros. A idéia surgiu enquanto atravessava o setor de inseticidas e me deparei com armadilhazinhas que prometiam atrair os insetos para dentro de pequenas câmaras e infectá-las com um poderoso veneno que não as mataria imediatamente, dando-lhes tempo de irem até o ninho e lá contaminarem as demais companheiras. O ingrediente que as atraia era mel. Comprei dois vidros grandes, mel puro direto de Jordanópolis (aliás nunca vi um mel que não alegasse ser puro), e corri para o meu cafofo ao encontro de meu amor com armadura.

Quando cheguei Praga estava estática dentro do vidro. Meu ser mais uma vez tremeu, a morte dela seria algo insuportável. Destampei o vidro e peguei com cuidado o corpinho de minha menina, para meu alivio as anteninhas começaram a se mover freneticamente. Havia flagrado a marota em meio a uma soneca. Minha alegria foi tão grande que beijei Praga na boca, a ponta da minha língua tocou a pequena cabecinha da qual saiam as esfuziantes anteninhas, meu sexo desabrochou em cana novamente, comecei a me masturbar e a beijá-la apaixonadamente, o cheiro daquela barata me deixava louco! Na hora do gozo mirei o jato em cima dela que ficou toda melecada, podia ver uma microscópica língua sorvendo toda a minha porra. Servi Praga com um pouco de mel, fui tomar um banho e refletir sobre o nosso relacionamento. Como era bom saber que existia alguém que mesmo sendo uma barata e mesmo vivendo sob um regime escravo, precisava de você e de certa forma te amava. Sai do banho com a alma cheia de emoção e encontrei Praga toda suja de mel, uma idéia louca tomou conta da minha cabeça, beijei minha cucaracha de língua e senti o delicioso gosto do mel, meu membro já estava duro como pedra, coloquei Praga inteira na boca e com leves movimentos de língua passei a limpá-la , me masturbei com fúria , gozei quente sobre os meus pés. Dei um beijo de boa noite no meu clitóris blindado, guardei-a em sua cela de vidro e dormi como nunca havia dormido em toda a minha existência.

No dia seguinte não fui trabalhar, seria meu “Day-off” com Praga. Coloquei sua cela no banco do carona do meu Passat 76 e fomos passear por São Paulo. Levei-a ao Museu do Ipiranga, almoçamos um churrasco grego na Rua Formosa. Eu fazia tudo para deixar Praga num ambiente descontraído. A tarde assistimos ao filme Império dos Sentidos no cine Marrocos. Voltamos para casa exaustos. Mais tarde, durante a novela, comecei a beijá-la louco de tesão e tive mais uma idéia maluca, que fez com que meu membro fremisse de desejo. Coloquei Praga cuidadosamente embaixo do meu prepúcio e deixei que ela lá se mexesse com suas perninhas serrilhadas... gozei em segundos! Repetimos a brincadeira três vezes.

Acordei, liguei para o serviço inventando uma desculpa qualquer, precisava ficar com Praga mais um dia, a ausência seria insuportável, mais uma vez a beijei, estava pronto para colocá-la no meu pau novamente quando me lembrei que a última coisa que ela havia comido tinha sido o churrasco grego do dia anterior. Ela gastava muita energia na minha glande e precisava se alimentar. Coloquei mel e ela se lambuzava feito uma criança, quando notei que ela já estava satisfeita coloquei-a em minha boca para limpa-la e então o horrível aconteceu... Não sei se alguma coisa me distraiu, Praga simplesmente escorregou pela minha garganta abaixo. Lágrimas escorreram de meus olhos, ranho de meu nariz, meu coração disparou, meu amor estava no meu estomago! Em poucos segundos os ácidos digestivos destruiriam sua beleza, Praga morreria de maneira horrenda por um estúpido descuido meu. Não conseguiria viver comigo mesmo. Tinha que ser rápido. Corri para a cozinha e agarrei uma faca de cabo branco, sentei numa cadeira e num movimento rápido, de uma habilidade que não imaginava ter, abri minha barriga do externo até o osso pubiano num movimento rápido, uma água com cheiro azedo de vômito lavou o chão da cozinha, e sangue, muito sangue. Praga saiu da vagina gigante que se transformou minha barriga e veio em direção a minha boca me dando um derradeiro beijo. Abriu as asas e alçou vôo em direção a janela, sem ao menos olhar para trás.

quarta-feira, 9 de setembro de 2009

Nelson,nosso avô eterrrrrrno!


Tive um sonho esotérico e profético.Estava num desses botequins totais com paredes de azulejo azul e torresmos hippies nas vitrinas.Tomava o cafézinho do tipo coador em copo americano tradicional, estou com as costas voltadas para a rua quando o caixa grita em solene e felicissímo êxtase: Olha o óbvio ululante aí gente!- e entra no bar Nelson Rodrigues. Apesar de saber que Nelson não era mais do nosso mundo fui só compreensão, estava ali o ídolo dos ídolos, o velinho de paletó gasto, com cintura alta cujos cós alcançavam os pulmões, andando com certa dificuldade, bate no balcão e pede altivamente:Manda aí uma água, de preferência Lindóia que é água da bica!Como um humilde espiríta não me contenho e ataco vorazmente a celebridade do além:Nelson o que faz entre os vivos nessa manhã de sabádo? Me responde o "flor de obsessão": Mortos são vocês rapaz! O mundo é um armazém de secos e molhados e a morte é o despertar do sonho dos vivos, quando sonhamos meu caro estamos na verdade olhando o mundo dos mortos pela fechadura, assim como eu sempre vi a nudez e o sexo, como menino perene que é todo homem, além disso hoje é sábado e como diria o jardineiro da minha infância, o sábado é uma ilusão!Decido então usar Nelson como um oráculo de Delfos do Leme: Nelson, me diga aí o futuro politíco do Brasil?-me responde o grande:O fato de eu estar morto não me faz um vidente meu caro,mas como sempre disse em vida, para ser gênio basta enxergar o óbvio!!! E avisa o Xico Sá para deixar de ser transviado...-nesse momento acordo em sobressalto, ao meu lado uma revista Veja com Dilma na capa.

Forever Woody


Para a minha, lindinha, pitchukinha amiga Desir de La Vie, um pouco da admiração por Woody num texto meio antigo,mas se o Xico Sá pode,eu também posso,um beijão Mary Keyboard


Woody Allen já era bom sendo apenas Woody Allen, é claro que não devemos levar em conta alguns momentos infelizes de sua carreira os quais listo abaixo:

Todos os filmes de sua fase Bergman:Interiores,Setembro e A Outra

-Sweet and Lowdown -Scoop

Confesso que imaginei que seria mais fácil fazer a lista acima, apenas seis filmes numa filmografia altamente prolífica não é coisa para qualquer diretor, Woody é um operário- artesão, alguém que conseguiu montar um pequeno atelier num cantinho de uma grande fábrica e é lá que aqueles que buscam pelos prazeres exclusivos vão buscar os produtos de um gênio. Woody Allen além de ter um forte estilo próprio nunca escondeu fortes influências de alguns mestres, o primeiro sem dúvida foi Bergman o qual homenageou (copiou) nos três filmes citados acima que podem figurar como os mais tristes de sua filmografia, em ambos os sentidos, o american way of life não combinou com a alma sueca e as questões existenciais do mestre, alguma coisa estava fora de lugar, a influência Bergmaniana permaneceu mas não de forma tão explicita em outros de seus filmes. Em Match Point, Allen incorpora Hitchcock sem deixar de ser Woody Allen e o resultado foi fantástico, como é de conhecimento geral. Agora podemos ver o cineasta assumindo duas influências, em O Sonho de Cassandra atualmente em cartaz, Woody brinca com referencias de Hitchcock, Billy Wilder além de suas próprias e o resultado é acachapante. No filme dois irmãos movidos pelo vil metal são levados a cometer um crime.O filme é uma releitura moderna de uma tragédia grega, esqueçam as comédias apesar do riso aflorar quase durante o rolo todo. O mais interessante é a maneira sútil com que o diretor critica a futilidade da sociedade atual, contrapondo dois opostos, a consciência humana conturbada, cheia de fraquezas e angústias, que pode levar o homem aos atos mais baixos e paradoxalmente as ações mais nobres, e a total falta dessa consciência, o hedonismo vazio, o consumismo chulo e frio que transforma homens em ratos. O Sonho de Cassandra é um filme adulto, literário, falado, os diálogos são coerentes, os personagens são inteligentes e transpiram vida, ao saírmos do cinema temos a impressão de ter lido um excelente conto, desses que ficarão conosco por um bom tempo, incomodando e talvez, mudando. Woody Allen, Hitchcock e Billy Wilder, precisa mais?


L Homme qui aimait les femmes


Ao Mestre Xico Sá




Caiu em minhas mãos um texto muito interessante escrito por Heloisa Seixas para a extinta revista do Jornal do Brasil, um belo relato sobre um homem cascudinho (espécie que não chega a ter a unha do dedo mindinho cumprida e no outro extremo não possui nem idéia sobre o que fabrica a Lâncome) que expressa um amor violento, total, incondicional a todas as mulheres do mundo. Questionado sobre o que era a beleza feminina esse mestre e grande frasista da língua definiu de forma tranquila, soberba e fleumática a querela: "Minha amiga, na cama todas as mulheres são lindas." Tal imenso nariz de cera existe apenas para implementar e inflamar o meu apelo: homens amem as mulheres, esses doces seres que povoam a nossa existência, esses bichos cheirosos que sentem frio nos pés e acreditam em astrologia, essas criaturas que povoam a nossa brutal existência com lirismo, essas pessoas que nos inspiram a poesia, coisas pelas quais matamos e morremos.O amor por uma mulher nunca deve ser particular, o homem apaixonado escreve cartas para o mundo, o homem apaixonado deve apelar para a pura e boa breguice, salve Rei-ginaldo Rossi "Mon Amour,Meu Bem,Ma Femme"(clássico cuja a trabalhadíssima letra de autoria da sapientissíma Cleusa se encontra no final do texto)! O homem apaixonado recorre as Loucuras de Amor dos programas das tardes dominicais, o homem apaixonado respira a mulher, cheira a mulher,injeta o objeto de desejo nas veias meio vazias dos braços, uma vez que o sangue já fluiu para outra parte do corpo que frente ao minimo vestigio do objeto amado imediatamente apresenta o vitalissimo rigor mortis da tesudez da completude. Amem desgraçados, amem as suas femêas como homens, presentes, mimos, sexo avassalador, entrem sem medo no cheque especial da entrega total, sejam Truffaut, não sejam medíocres, aproveitem da mais maravilhosa embriaguez do mundo, barato e brisa que só pode provir dos lábios de nossas musas cotidianas, sejam Rossi, sejam Truffaut,s ejam O Homem que Amava as Mulheres.


Mon Amour, Meu Bem, Ma Femme


Reginaldo Rossi


Composição: Cleide


Nesse corpo meigo e tão pequeno


Há uma espécie de veneno


Bem gostoso de provar


Como pode haver tanto desejo


Nos teus olhos, nos teus beijos,


No teu jeito de abraçar


E foi com isso que você me conquistou


Com esse jeito de menina É esse gosto de mulher


E nada existe em você Que eu não ame


Sou metade sem você


Mon amour, meu bem, ma femme

terça-feira, 8 de setembro de 2009

Minha menina


Minha menina deve ter as mãos esculpidas por Deus,são mãos pequenas,mãos lindas que podem segurar o mundo,mãos que fazem o mais frio dos homens se derreter em deleite cósmico,pequenas mãos,as unhas vermelhas de paixãoMinha menina deve ter os pés de criança,pés perfeitos sem defeito,dedinhos de nhoque,pés de Cinderella que faz do homem um princípe em busca de sapatos que satisfaçam tão caras jóias da natureza,o solo no qual esses pés pisam é sagradoMinha menina deve ter cabelos maravilhosos que representam o Aleph de Borges,através desses fios podemos observar toda a história da humanidade,podemos ver todos os homens que morreram de amor,assim como eu morro todos os diasMinha menina deve transpirar uma música romântica que faz com que todos se ajoelhem perante seu corpo,minha menina é doceMinha menina deve queimar como labareda,como fogo,como as entranhas do inferno,deve ter um sorriso sacana e doce,deve ser a criança e a putaMinha menina deve ser pimenta...

O céu através do cú


Se a crueza do título deste post "chocou" alguém esperem só ao lerem " A entrega-Memórias Eróticas" de Toni Bentley, que acabei de ler com alguns anos de atraso. O livro que consiste nas lembranças eróticas ultra-explicítas da escritora,ex-bailarina da companhia de Ballantine e colaboradora eventual do New York Times é uma exaltação aos prazeres proporcionados pela briocagem.Ou melhor, para a escritora, o ato de ter a "janta socada" (se acharem grosseiro leiam o livro!) é uma experiência que rompe todos os limites do fisíco, desaguando o corpo no tempo filosófico, levar na bunda para Toni é o sublime, uma transubstanciação, um êxtase mistico, A Entrega é um livro sobre uma mulher que teve a sua sanidade mental restaurada por um sarrafo na peida, faço uma observação sobre as metáforas que a autora se utiliza para designar o coito anal, aqui vão algumas:a caneta dele no meu papel,seu marcador no meu mata-borrão,seu míssil na minha lua, e algumas até piores que deixo de publicar em prol da familía brasileira.Todos nós, medianamente letrados no velho Freud, sabemos o papel do ânus na formação de certas carcteristícas da personalidade humana, porém Toni, que demonstra ter inúmeros problemas afetivos em relação a figura paterna, eleva a penetração anal a patamares divinos, no sentido real da palavra,para ela sexo anal é a única forma de buscar a Deus, ao ser submissa Toni procura a aprovação de seu pai, sempre perseguindo e desaprovando a filha, o exagero de Toni é algo que só pode ser justificável por pressões mercadológicas.O livro, moralismos a parte ,é mais pornográfico que psicológico.Os homens podem ler com curiosidade, dificilmente encontraremos relatos tão detalhados do que sente uma mulher durante a penetração briocal, e basta olhar para a foto da autora na contra capa para ver que a moça entende do riscado.O livro é então um delicioso passeio onanista o qual enfrentamos com curiosidade e bom humor, o único problema é ficar fascinado pelos relatos da autora e se sentir tentado a liberar a tarraqueta.

segunda-feira, 7 de setembro de 2009

Fome de Amar


Apesar de ter sido feito a mais de vinte anos atrás a atualidade de Fome de Viver é inegável, a cena de abertura em que o casal de vampiros Miriam (Catherine Deneuve bela da tarde, da noite e da manhã) e John (David Bowie) chegam a uma boate para caçar suas presas parece ter sido feita no último domingo no Clube A Lôca, a linguagem publicitária (não me agrada particularmente)que Tony Scott utiliza no filme não envelheceu.Fome de Viver é retro-chique. Muitos disseram que Fome é um filme sobre a implacabilidade do tempo e a mortalidade consequente do inexorável passar das horas,sendo assim uma espécie de continuação de Blade Runner,dirigido pelo irmão do diretor de Fome de Viver,Ridley Scott.Blade Runner,realizado um ano antes de "The Hunger", termina com o replicante Roy se questionando sobre quanto tempo ainda teremos e Fome de Viver tenta refletir sobre o fenômeno tempo através da ótica dos relacionamentos. O filme começa com os vampirões em uma boate moderninha, de lá saem acompanhados de um casal para um suposto "swing" porém o que espera os desavisados namorados é a faca (sim,os vampiros de The Hunger não possuem dentões)e a deglutição de seu sangue por John e Miriam.A sangrenta troca de casais nada mais é do que uma representação de uma tentativa de renovar um relacionamento já antigo,já meio desgastado pelo tempo, muitos casais em declinio recorrem a clubes de swing para tentar dar uma apimentada na relação.Depois vemos John se dirigindo a uma cliníca onde a Dra.Sarah (Susan Sarandon) pesquisa formas de aumentar a vida humana, descobrimos então que John,por mais sangue que beba,esta envelhecendo rapidamente a consulta com Sarah é um grito de socorro,John representa o envelhecimento de um caso de amor. Após uma mal-sucedida consulta com a médica John retorna a sua casa, onde uma menina de aproximadamente dez anos espera Miriam para suas aulas de piano.John ataca a garota e bebe seu sangue, era essa menina que tocava para deleite de ambos uma bela música de amor ao piano,o assassínio da menina representa a última tentativa de John salvar o amor perdido,a garotinha representa uma músíca romântica antiga que marcou o inicio do relacionamento de John e Miriam,uma tentativa de retornar a um passado jovem (uma criança) e dourado.Miriam chega, ele confessa a ela seu crime e morre em seus braços,aparentando uns cento e cinquenta anos de idade. Miriam leva o decrépito corpo para o sotão de sua casa e o coloca em um caixão, vemos que existem vários outros caixões no macabro depósito, ex-amantes de Miriam através dos tempos.Mas por que ela sobrevive a todos os seus amores? A metáfora é óbvia,Miriam é mais forte porque consegue literalmente enterrar seu passado, seus amores acabam e ela segue em frente,parte para uma nova relação e esquece o passado. Miriam recebe então a inesperada visita da Dra.Sarah que intrigada pelo envelhecimento relâmpago de John vai a casa do mesmo em busca de respostas.Miriam seduz Sarah e a transforma numa vampira,tudo num clima lesbian-chic, ambas se tornam amantes,conforme já dito,Miriam não consegue ficar sem companhia e Sarah é sua nova parceira,porém Sarah rejeita Miriam numa alusão a homofobia.No filme vemos um estranhamento em relação a amar uma vampira,na verdade o que a situação mostra é a rejeição de Sarah,uma mulher até então heterossexual e casada,por um homossexualismo latente que começa a se manifestar,Sarah então tenta se matar buscando por um ponto final em suas pulsões homoeróticas, Miriam,rejeitada pela médica entra em crise,desta vez não há como colocar a jovem e fresca (um amor novo e maravilhoso) num caixão e seguir em frente,nesse momento os corpos em decomposição dos amantes do passado de Miriam saem de seus esquifes e numa cena cruenta, que contrasta com a sutileza geral do filme,levam a vampira para a tumba do esquecimento. O filme termina com Sarah na sacada de seu apartamento,do sotão ecoam os gritos de Miriam, ou seja, apesar de ter rejeitado Miriam em nome da moralidade a vampira ainda vive na alma de Sarah,um amor inesquecível.Sarah continua vampira (lésbica),o filme termina. Fome de viver é então um filme visão sobre a necessidade que temos dos outros e como essa necessidade muitas vezes definha e acaba.Porém a maior pergunta do filme fica em aberto, a agrura que Miriam,tão experiente,não conseguiu suportar, o que fazer com um amor que acaba em seu auge? Como esquecer o paraíso?

domingo, 6 de setembro de 2009

As time goes by...


"Milhares de bares no mundo e ela vai entrar logo no meu..."

Humphrey Bogart como Rick Blaine em Casablanca


Tarde vazia, coloco Casablanca, masoquismo puro, somente quem nunca amou passa ileso pelo filme de Michael Curtiz. Rever a estória de Ricky e Ilsa é ser jogado num mundo de recordações, de hearts full of passion, jealousy and hate como diz a canção do supostamente assexuado Herman Hupfeld, o homem que nunca amou e compos a mais bela letra de amor de todos os tempos. Rever Casablanca é rever o filme que simboliza o cinema, um filme com vilões malévolos, um herói durão de coração mais mole que Claybom e uma mulher arrependida, não é o melhor filme, sem dúvida é o mais emblemático. Os grandes amores acabam como o de Rick e Ilsa, não numa briga doméstica sobre contas a pagar, não sobre discussões a respeito de botequins ou gastos no shopping com cartões, um grande amor nunca morre de velho, de desgaste, os melhores amores se suicidam assim como Rick suicidou seu coração naquele aeroporto do Marrocos, um caso como aquele não poderia acabar num subúrbio de New Jersey onde o boêmio se tornaria um pacato técnico de telefonia e Ilsa uma dona de casa, não para eles era melhor ter sempre Paris . Como são lindos os amores que se suicidam e como dói assistir Casablanca, ao ouvir As Time Goes By nossas histórias sentimentais, como que por milagre, ressuscitam.

A cena mais bela do cinema pode ser vista aqui://www.youtube.com/watch?v=Wo2Lof_5dy4

sábado, 5 de setembro de 2009

Realidade


Ataco de fenomenólogo,vou filosofar sobre o mundo sensível e pretendo ser metafísico,ser existencial,ser materialista,ser contraditório,quero que não exista método na minha filosofia,me ajude São Nietzsche!Me empreste sua lucidez maluca ó grande Louco de Turim! Me ensina a viver como super-homem, me auxilie,quero ser o Anti-Cristo, quero as palavras faladas pelo velho Zaratustra! Homem,quem és tú? Vida me decifra ou te devoro!Miséria nossa,leitores de Caras me ensinem a carregar esse fardo que se estende do despertar ao deitar, só os sonhos nos livram dos grilhões,mais uma vez Friedrich te invoco,você que enlouqueceu devido a tanta sanidade,que sifilis que nada! O mundo real é real ou é delirio? Os amores existem? Os intímos irmãos que nos abandonam a nossa própria sorte existem? O ar existe? Por que estou condenado a este tempo?Por que sou eu e não outro?Por que vivo aqui e não numa cidade grega do período clássico?Por que sou isso e não um monje medieval? Um corsário praticando pilhagens a serviço de nossa Majestade?Insuportável realidade que destrói,que pilha,vida a qual obedecemos de olhos fechados? Enfrentar isso,de que jeito? Obedecer a quem? A Deus? Mas como obedecer a um criador invisível uma vez que não acredito nem mesmo na minha própria existência?Heidegger,Sarte,sejam mais claros,Heidegger perfeito porém nazista,Sartre perfeito porém stalinista, culpados pelo erro,senhores de suas vidas,escravos das ideologias fomentadas por mentes inferiores,escravos sem querer,viva Camus! Morreu existencial e jovem proibido assim de se contradizer,coerência senhora das mentes medíocres! Fujo então para A Sombra de Heidegger de Jose Pablo Feinmann e descubro,a última esperança é a arte,só ela pode nos dar uma segunda chance de realidade,só ela nos tira do mundo por efemeros instantes,belíssimo romance de filosofia,filosofia de romance.Amanhã vai chover em São Paulo.

quinta-feira, 3 de setembro de 2009

Aviões,Trens,Automóveis e Amizade


Seguindo uma indicação de Roger Ebert de seu livro Grandes Filmes assisti a Antes Só do Que Mal Acompanhado(Planes,Trains & Automobiles,1987) de John Hugues e o prazer foi grande.Meu desprezo pela película sempre se deveu ao preconceito puro,achava que o filme era somente mais uma comédia rotineira estrelada por Steve Martin nos anos 80,como Trocando as Bolas e Roxanne,mea culpa,mea culpa,o filme é uma jóia,uma dessas delícias próprias para as tardes de domingo (costumo incluir nessa categoria alguns filmes de Mike Nichols como A Difícil Arte de Amar,Secretária de Futuro e Lobo).São filmes luminosos,bem-humorados que muito falam sobre a condição humana,colírios para a nossa miopia cotidiana.Em Antes Só Steve Martin faz o papel de Neal Page,um burocrata do marketing que esta saindo de Nova Iorque para encontrar a família em Chicago a dois dias do Thanksgiving,porém a viagem não vai dar certo,haverá escassez de táxis,pousos e decolagens prejudicados pelo mau tempo,trens enguiçados entre outros empecilhos.Como companheiro desta jornada Page encontrará Del Grifith (John Candy em sua melhor atuação) um vendedor de argolas para cortinas de banheiro,gordo,desajeitado e inconveniente,que clama ser amado somente por sua esposa,carregando um enorme baú (objeto o qual descobriremos o significado metafórico somente no final da trama)que contribuirá para as agruras do personagem de Steve Martin. Temos aí uma comédia de erros com risos abundantes,como Perdidos em Nova Iorque (Out Of Towners com Jack Lemmon)em que nada dá certo,porém percebemos que o filme de Hugues é muito mais do que isso.Após dois dias na estrada Page se despede de Grifith numa estação de metrô de Chicago, o personagem de Martin então,se refestela num banco do metrô aliviado por estar no final de tão conturbada jornada,por ter se livrado de Grifith,fecha os olhos e relaxantes e prazeirosas imagens de sua família surgem em sua mente,porém essas imagens se mesclam com lembranças dos momentos vividos ao lado de Del Grifith,momentos de ação e riso,momentos que mesmo involuntariamente fizeram com que Page saísse de sua vidinha burocrática de executivo,aquele homem chato, apesar de tudo, havia se tornado um amigo.Num segundo insight Martin percebe o porque do personagem de Candy ser tão grudento,ele se recorda de uma série de incongruências do discurso de Grifith sobre a sua mulher,sim,não existia mulher alguma,Grifith era um solitário e aí descobrimos o significado do baú,o objeto representa a dor que o homem carrega,a dor da perda da mulher amada,morta oito anos antes.Temos aí um filme sobre a amizade,ninguém neste mundo é perfeito e a maior parte dos nossos defeitos tem um motivo,muitas vezes motivos que preferimos manter escondidos,ser amigo de alguém é fazer vista grossa a estes defeitos e tentar corrigi-los quando possível,a amizade é mais um ato de amor incondicional ao qual devemos nos submeter na nossa existência.Page volta a estação e encontra Grifith sozinho,desamparado,sentado em um banco da estação,momentos depois vemos os dois homens chegando a casa de Page,Grifith divide o peso do baú com Page,cada um segurando uma alça,o almoço de Ação de Graças esta prestes a ser servido,Page apresenta o amigo com orgulho aos familiares acolhendo-o no amago de seu lar,ao lado de seus entes mais amados,Grifith sorri deliciado e nós choramos de emoção. A amizade entre os dois homens esta selada,o nosso amor por Antes Só do Que Mal Acompanhado também.

quarta-feira, 2 de setembro de 2009

Para quem dançou muito no escuro...

Eu dancei lá nos anos 80, e continuo dançando.Saudade da porra de uma época que nunca devia ter acabado.
Velho Bruce, você esta certo you cant start a fire sitting around crying over a broken heart...

http://www.youtube.com/watch?v=Pk8VZgJkpeg

Rubayat para o meu amor...


Eis a verdade única: - somos os peões da misteriosa partida de xadrez, jogada por Deus, que nos desloca, nos pára, nos põe mais adiante, e depois nos recolhe um a um à caixa do nada.Omar Kayam-Rubayat



Você me aparece no sonho, a pele de uma brancura de personalidade suave, emite um levíssimo soar ao toque, o pescoço tem um cheiro que lembra os astros de luz própria,o sonho acaba e lá estou eu vivendo naquele mundo não-ideal,aquele mundo logo ali pós-holocausto em que o que existia de mais belo foi pisado pela bota do soldado,foi arrancado pelas mãos asquerosas da demência,um mundo aleijado em que o fragor virou gelo,em que o mais perfeito foi substituído pelo apenas corriqueiro,pelo nonsense, a poesia pela prosa realista soviética, brindai ao luar com o vinho que bebes hoje pois não sabes se amanhã o luar lá estará para receber o teu brinde nobre Omar Khayam!Meu Rubayat agora é recitado por outros poetas,em outras tendas,num outro oriente. Minha Beatriz, me diga em qual dos ciclos do inferno criado pelo florentino você se encontra para que eu montado em Rocinante possa te resgatar? Você meu belo bálsamo, meu vinho proibido de uma safra especial,minha mistura de todas as literaturas com todas as vulgaridades que cometiamos em gozo mutuo, essência do ser e do tudo,do ser e do tempo, Isolda, Heloísa,Conceição,de todos os abraços o que eu nunca esqueci, mon amour,meu bem,ma femme,fruta da qual quero sugar todos os sumos sem exceção,sentir todos os cheiros,machucar com meus dentes,o gosto do seu sangue na minha língua,quero te fazer chorar com a violência do meu tesão,quero a sua submissão diante dos cabelos quase que arrancados pelas minhas mãos ensandecidas pelo álcool e pelo maior amor que um homem já pode sentir, minha terceira pessoa que se tornou primeira,meu fogo que ameaça explodir meu saco de dor, minha louca língua que é nossa,meu amor de dor,minha dor de alegria.

Consegui ver Rushmore,filme de Wes Anderson raro no Brasil,de 1998 anterior ao maravilhoso "Os Excêntricos Tanembaus".Rushmore é mais uma obra de gênio,é um filme que pertence (como todos os seus outros filmes) a um gênero indefinido e indefinível,não sabemos se é drama ou comédia sem risos ou experimento estético ou melodrama açucarado ou teatro ácido ou um pouco de tudo isso. Seus personagens são mais humanos do que se pode ser humano,são maus e bons,egoístas e altruístas,lúcidos e loucos e apesar do pé sempre atolado na lama esses maravilhosos seres conseguem sempre manter uma aura de dignidade,a cabeça sempre erguida acima de suas trapalhadas,sempre errando e errando de novo,coisa que é comum a todos nós,tudo isso faz com que esses seres de película sejam inesquecíveis. Seus filmes tem uma certa atmosfera de sonho,aqueles deliciosos malucos desfilam num mundo meio lirico povoado por indianos,enfermeiros,escroques,táxistas bandidos em carros caindo aos pedaços,arrogantes que sempre se arrependem,maus que no final fazem seu mea culpa junto aos bons e todos se perdoam e dão aos mãos, Wes Anderson parece ser homem de um só filme,um só sonho que se renova a cada nova empreitada e nos arranca lágrimas de alegria e prazer estético,suas fábulas humanas parecem o tempo todo nos dizer que no final das contas todo mundo tem os seus motivos,todos tem seus egoísmos e mesquinharias mas no fundo ninguém deixa de ter algo de bom e o perdão nos redime e nos faz renascer,Wes Anderson é o mais humano dos cineastas atuais,o mais doce,o mais lúdico,o mais genial,talvez Frank Capra tenha mandado um anjo para abençoar esse menino e fazer com que ele continue nos dando esses filmes fantásticos que não se cansam de dizer que,apesar de tudo,its a wonderful life.