segunda-feira, 24 de agosto de 2009

A Síndrome do Vídeo


Revi Videodrome e o achei atualissimo. No filme o que se passa na TV, especificamente num canal porno não é encenado, tudo é real e uma das personagens é literalmente tragada para o mundo do vídeo, realidade e fantasia são exatamente a mesma coisa, como hoje. Sim meus caros senhores, chegamos a era preconizada lá atrás pelo “cyber-neuro-sacana” David Cronnenberg naquele velho filme com o excelente canastra do James Woods.

O mundo analógico acabou, nós não nos contentamos apenas com a existência palpável, com aquilo que podemos ver e tocar empiricamente, a tela de vídeo é onipresente, as imagens em movimento estão em toda a parte, os monitores já podem ser vistos em elevadores, metrô e até mesmo ônibus. As telas nos dias atuais tem a função de fazer com que os seres estejam em mais de um lugar ao mesmo tempo, é uma desesperada tentativa de multiplicar, de adicionar, de incrementar as experiências, tomemos os exemplos dos bares, antigamente íamos aos botequins em busca das sagradas paratis, dos perigosos acepipes, das imortais amizades e é claro para celebrar a velha frase: o bar é o descanso do lar. Atualmente não existe a mais reles bodega onde não exista um aparelho televisor destruindo a harmonia da cachaça grupal, da paquera ocasional, da bebedeira emocional.

O homem nunca esteve tão distante do local onde se encontra fisicamente, a concentração no aqui e agora, a vivência plena no presente é cada vez mais improvável, vivemos na menos budica das eras, até o sagrado ato do sexo é violentado pelas telas dos motéis e seus filmes de sacanagem americanos siliconados, um amigo meu (que agora deu pra processar e não posso mais citar o nome) gostava de transar com a TV sintonizada no Jornal Nacional, assim não perdia tempo, se informava e conseguia controlar a ejaculação, uma vez o telejornal foi interrompido para a propaganda obrigatória do PTB, ecoou a inconfundível e caudilhesca voz de Leonel Brizola, ele broxou.

Voltemos então a tela, ninguém se sente vivo sem ter aparecido pelo menos uma vez na TV, é uma inversão completa, o nosso mundo aos poucos começa a se tornar uma ficção, uma imitação de uma realidade paralela, todo mundo segue o que se passa nas telas, todo mundo quer ser galã ou top-model anoréxica , todo mundo é fã do padrão moral das telenovelas da Globo, resumindo, a gente ta fudido mesmo.

5 comentários:

  1. Eduardo, meu tesão (já estou achando que tu é um tesudo) o texto é surreal, é real e tudo se resume a uma verdade: ser mais simples !!! olhar o mundo de outra maneira ou ir morar na Chapada do Araripe. Lá ainda tem bodegas sem TVs. Se não sabe onde fica, pergunte ao dono do outo blog. Abraço !

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  2. Obrigado Glorinha, como diria o velho Zé Bonitinho realmente é muito chato ser gostoso...

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  3. "A batalha pela mente da América do Norte será travada na arena dos vídeos, o Videodrome. A tela da televisão é a retina da mente. Portanto, a tela da televisão é parte da estrutura física do cérebro. Portanto, o que aparece na tela da televisão surge como pura experiência para aqueles que assistem. Portanto, a televisão é a realidade e a realidade é menos do que a televisão.”
    “Acho que este desenvolvimento na minha cabeça, esta cabeça, esta aqui, não acredito que seja realmente um tumor, uma forma borbulhante descontrolada de carne, mas que seja, na verdade, um novo órgão, uma nova parte do cérebro. Acho que doses maciças do sinal do Videodrome criarão um novo desenvolvimento do cérebro humano, que produzirá e controlará a alucinação a ponto de mudar a realidade humana. Afinal, não há nada real, além de nossa percepção da realidade.”
    Prof. O'Blivion

    Nao acho paralela, acho tangencial.

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  4. Lucimara,estou começando a me apaixonar por você,tesão...

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  5. Por essa razão que a tevê daqui de casa fica desligada 24 horas. Por essa razão que prefiro sexo explícito-ao vivo, claro!, do que o maquiado e transmitido pela tela, por essa razão que prefiro os botecos de quinta ou os nobres que irradiam melodiosas músicas de piano...

    Sou da era tecnológica, mas a odeio quando ela OUSA interferir na minha natureza. Eu escolho por mim, não ela - Essa inxirida. Muito embora, fatalmente, estejamos ligadas.

    Blé.

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