quinta-feira, 1 de outubro de 2009

Reflexões com Mr.Bob Dylan

Nada mais frutífero do ponto de vista filosófico do que o porre solitário. Nada mais lindo do que se embebedar sozinho, apenas observando com atenção, olhando com carinho os outros e suas ridículas discrepâncias e principalmente descobrindo os nossos próprios podres enterrados no peito como sapos de macumba. Pois bem, estava lá no balcão transcendental, local de tantas galhofas, tantos risos, tantas glórias e derrotas, tanta fraternidade íntima, estava lá sozinho, meus únicos companheiros eram uma dupla de senhores escoceses chamados Justerine & Brooks afogados em cúbicos icebergs, ouvi Bob Dylan cantando espectralmente, profeticamente,como se dirigindo particularmente a minha profunda solidão:
" How does it feel
How does it feel
To be on your own
With no direction home
Like a complete unknown
Like a rolling stone?"
Passei então a fazer um exame minucioso de minha vida, desde a minha tenra infância escolar onde comecei a sentir na pele a frase do Huis-Clos sartreano sobre a identidade do inferno e só surgia a pergunta "Qual a minha importância no grande esquema das coisas?" e pude, num lampejo de lucidez que só pode ser alcançado após a comunhão alcoólica responder, nenhuma, é essa nossa importância, nenhuma, nada temos, só ilusões. Somos como drogados em busca de mais uma pedra de crack,precisamos de ilusões para sairmos de nossas carcaças que envelhecem,corpos em decadência jogados sem misericórdia num mundo que não foi escolhido, num mundo pronto, num mundo com seus deuses e pecadores, num mundo com suas verdades e mentiras. Somos todos alcólatras em busca de mais uma dose, ela pode ser uma promoção para os carreiristas, um Ipod para os idiotas tecnológicos, um livro para um pretenso intelectual, uma viagem para aqueles que não se contentam com o mesmo chão sob os pés, um ato altruísta para os que possuem complexo de Madre Teresa, um estudo sério para um CDF, um Audi A8 para um ostentador, um amor para um sentimentalóide patético. Será possível viver sem ilusões? Sem drogas?Sem artificíos? Infelizmente não, nossa maldição é essa, buscar sempre e sempre não conseguir. Perseguimos um animal invisível, tentamos agarrá-lo pelo rabo até que chega a morte e põe um ponto final em tudo, como se toda essa briga se tratasse de uma brincadeira, de uma piada sem sentido .Bob Dylan volta para me dar mais um toque, sim, o grande Jokerman é a nossa vida.

2 comentários:

  1. Pô, vatomanocu!

    Suas reflexões existenciais acabam acordando as minhas - que, aliás, coloquei para dormir há muito pouco tempo - e a custo de doses cavalares de diazepam.

    Ela ronca, ronca, ronca, mas me deixa viver...às vezes ela me dá um susto, noutras, ela acorda serena. O problema é quando ela resolve cair em insônia...Daí, meu caro, é pedir mais do que meras substâncias entorpecentes.

    Melhor tentarmos ficar com nossas ilusões...é menos dolorido, acho eu.

    Bem-vindo, cabra!

    ResponderExcluir